Todos usam o SUS: SUS na Seguridade Social!
Política Pública, Patrimônio do Povo Brasileiro
Acesso e Acolhimento com Qualidade: um desafio para o sus
Nestes cinco dias da etapa nacional da 14ª Conferência Nacional de Saúde reunimos
2.937 delegados e 491 convidados, representantes de 4.375 Conferências Municipais e
27 Conferências Estaduais.
Somos aqueles que defendem o Sistema Único de Saúde como patrimônio do povo
brasileiro.
Punhos cerrados e palmas! Cenhos franzidos e sorrisos.
Nossos mais fortes sentimentos se expressam em defesa do Sistema Único de Saúde.
Defendemos intransigentemente um SUS Universal, integral, equânime,
descentralizado e estruturado no controle social.
Os compromissos dessa Conferência foram traçados para garantir a qualidade de
vida de todos e todas.
A Saúde é constitucionalmente assegurada ao povo brasileiro como direito de todos e
dever do Estado. A Saúde integra as políticas de Seguridade Social, conforme
estabelecido na Constituição Brasileira, e necessita ser fortalecida como política de
proteção social no País.
Os princípios e as diretrizes do SUS – de descentralização, atenção integral e
participação da comunidade – continuam a mobilizar cada ação de usuários,
trabalhadores, gestores e prestadores do SUS.
Construímos o SUS tendo como orientação a universalidade, a integralidade, a
igualdade e a equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde.
O SUS, como previsto na Constituição e na legislação vigente é um modelo de reforma
democrática do Estado brasileiro. É necessário transformarmos o SUS previsto na
Constituição em um SUS real.
São os princípios da solidariedade e do respeito aos direitos humanos fundamentais que
garantirão esse percurso que já é nosso curso nos últimos 30 anos em que atores sociais
militantes do SUS, como os usuários, os trabalhadores, os gestores e os prestadores,
exercem papel fundamental na construção do SUS.
A ordenação das ações políticas e econômicas deve garantir os direitos sociais, a
universalização das políticas sociais e o respeito às diversidades etnicorracial,
geracional, de gênero e regional. Defendemos, assim, o desenvolvimento sustentável e um projeto de Nação baseado na soberania, no crescimento sustentado da economia e no
fortalecimento da base produtiva e tecnológica para diminuir a dependência externa.
A valorização do trabalho, a redistribuição da renda e a consolidação da democracia
caminham em consonância com este projeto de desenvolvimento, garantindo os direitos
constitucionais à alimentação adequada, ao emprego, à moradia, à educação, ao acesso à
terra, ao saneamento, ao esporte e lazer, à cultura, à segurança pública, à segurança
alimentar e nutricional integradas às políticas de saúde.
Queremos implantar e ampliar as Políticas de Promoção da Equidade para reduzir as
condições desiguais a que são submetidas as mulheres, crianças, idosos, a população
negra e a população indígena, as comunidades quilombolas, as populações do campo e
da floresta, ribeirinha, a população LGBT, a população cigana, as pessoas em situação
de rua, as pessoas com deficiência e patologias e necessidades alimentares especiais.
As políticas de promoção da saúde devem ser organizadas com base no território com
participação inter-setorial articulando a vigilância em saúde com a Atenção Básica e
devem ser financiadas de forma tripartite pelas três esferas de governo para que sejam
superadas as iniqüidades e as especificidades regionais do País.
Defendemos que a Atenção Básica seja ordenadora da rede de saúde, caracterizando-se
pela resolutividade e pelo acesso e acolhimento com qualidade em tempo adequado e
com civilidade.
A importância da efetivação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
Mulher, a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos, além da garantia de
atenção à mulher em situação de violência, contribuirão para a redução da mortalidade
materna e neonatal, o combate ao câncer de colo uterino e de mama e uma vida com
dignidade e saúde em todas as fases de vida.
A implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra deve estar
voltada para o entendimento de que o racismo é um dos determinantes das condições de
saúde. Que as Políticas de Atenção Integral à Saúde das Populações do Campo e da
Floresta e da População LGBT, recentemente pactuadas e formalizadas, se tornem
instrumentos que contribuam para a garantia do direito, da promoção da igualdade e da
qualidade de vida dessas populações, superando todas as formas de discriminação e
exclusão da cidadania, e transformando o campo e a cidade em lugar de produção da
saúde. Para garantir o acesso às ações e serviços de saúde, com qualidade e respeito às
populações indígenas, defendemos o fortalecimento do Subsistema de Atenção à Saúde
Indígena. A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve se viabilizar por meio da
integração entre a Rede Nacional de Saúde do Trabalhador e as Vigilâncias em Saúde
Estaduais e Municipais. Buscamos o desenvolvimento de um indicador universal de
acidentes de trabalho que se incorpore aos sistemas de informação do SUS. Defendemos
o fortalecimento da Política Nacional de Saúde Mental e Álcool e outras drogas,
alinhados aos preceitos da Reforma Psiquiátrica antimanicomial brasileira e coerente
com as deliberações da IV Conferência Nacional de Saúde Mental.
Em relação ao financiamento do SUS é preciso aprovar a regulamentação da Emenda
Constitucional 29. A União deve destinar 10% da sua receita corrente bruta para a
saúde, sem incidência da Desvinculação de Recursos da União (DRU), que permita ao Governo Federal a redistribuição de 20% de suas receitas para outras despesas.
Defendemos a eliminação de todas as formas de subsídios públicos à comercialização
de planos e seguros privados de saúde e de insumos, bem como o aprimoramento de
mecanismos, normas e/ou portarias para o ressarcimento imediato ao SUS por serviços
a usuários da saúde suplementar. Além disso, é necessário manter a redução da taxa de
juros, criar novas fontes de recursos, aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF) para a saúde, tributar as grandes riquezas, fortunas e latifúndios, tributar o tabaco
e as bebidas alcoólicas, taxar a movimentação interbancária, instituir um percentual dos
royalties do petróleo e da mineração para a saúde e garantir um percentual do lucro das
empresas automobilísticas.
Defendemos a gestão 100% SUS, sem privatização: sistema único e comando único,
sem “dupla-porta”, contra a terceirização da gestão e com controle social amplo. A
gestão deve ser pública e a regulação de suas ações e serviços deve ser 100% estatal,
para qualquer prestador de serviços ou parceiros. Precisamos contribuir para a
construção do marco legal para as relações do Estado com o terceiro setor. Defendemos
a profissionalização das direções, assegurando autonomia administrativa aos hospitais
vinculados ao SUS, contratualizando metas para as equipes e unidades de saúde.
Defendemos a exclusão dos gastos com a folha de pessoal da Saúde e da Educação do
limite estabelecido para as Prefeituras, Estados, Distrito Federal e União pela Lei de
Responsabilidade Fiscal e lutamos pela aprovação da Lei de Responsabilidade Sanitária.
Para fortalecer a Política de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde é estratégico
promover a valorização dos trabalhadores e trabalhadoras em saúde, investir na
educação permanente e formação profissional de acordo com as necessidades de saúde
da população, garantir salários dignos e carreira definida de acordo com as diretrizes da
Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS, assim como, realizar concurso ou
seleção pública com vínculos que respeitem a legislação trabalhista. e assegurem
condições adequadas de trabalho, implantando a Política de Promoção da Saúde do
Trabalhador do SUS.
Visando fortalecer a política de democratização das relações de trabalho e fixação de
profissionais, defendemos a implantação das Mesas Municipais e Estaduais de
Negociação do SUS, assim como os protocolos da Mesa Nacional de Negociação
Permanente em especial o de Diretrizes Nacionais da Carreira Multiprofissional da
Saúde e o da Política de Desprecarização. O Plano de Cargos, Carreiras e Salários no
âmbito municipal/regional deve ter como base as necessidades loco-regionais, com
contrapartida dos Estados e da União.
Defendemos a adoção da carga horária máxima de 30 horas semanais para a
enfermagem e para todas as categorias profissionais que compõem o SUS, sem redução
de salário, visando cuidados mais seguros e de qualidade aos usuários. Apoiamos ainda
a regulamentação do piso salarial dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes
de Controle de Endemias (ACE), Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes
Indígenas de Saneamento (AISAN) com financiamento tripartite.
Para ampliar a atuação dos profissionais de saúde no SUS, em especial na Atenção
Básica, buscamos a valorização das Residências Médicas e Multiprofissionais, assim
como implementar o Serviço Civil para os profissionais da área da saúde. A revisão e
reestruturação curricular das profissões da área da saúde devem estar articuladas com a regulação, a fiscalização da qualidade e a criação de novos cursos, de acordo com as
necessidades sociais da população e do SUS no território.
O esforço de garantir e ampliar a participação da sociedade brasileira, sobretudo dos
segmentos mais excluídos, foi determinante para dar maior legitimidade à 14ª
Conferência Nacional de Saúde. Este esforço deve ser estendido de forma permanente,
pois ainda há desigualdades de acesso e de participação de importantes segmentos
populacionais no SUS.
Há ainda a incompreensão entre alguns gestores para com a participação da comunidade
garantida na Constituição Cidadã e o papel deliberativo dos conselhos traduzidos na Lei
nº 8.142/90. Superar esse impasse é uma tarefa, mais do que um desafio.
A garantia do direito à saúde é, aqui, reafirmada com o compromisso pela implantação
de todas as deliberações da 14ª Conferência Nacional de Saúde que orientará nossas
ações nos próximos quatro anos reconhecendo a legitimidade daqueles que compõe os
conselhos de saúde, fortalecendo o caráter deliberativo dos conselhos já conquistado em
lei e que precisa ser assumido com precisão e compromisso na prática em todas as
esferas de governo, pelos gestores e prestadores, pelos trabalhadores e pelos usuários.
Somos cidadãs e cidadãos que não deixam para o dia seguinte o que é necessário fazer
no dia de hoje. Somos fortes, somos SUS.
PLENARIA FINAL DA 14ª CNS
Brasília, DF, 04/12/11